terça-feira, 23 de novembro de 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Road to nowhere

Houve um dia em que pareceu pertinente apagar contactos aparentemente inúteis da lista do telemóvel. Nesse dia começou tudo. A primeira categoria dos dígitos telefónicos ocupou de forma avassaladora o equipamento, sem deixar espaço para mais ninguém. Um destinatário unívoco, inequívoco, era o epicentro das comunicações. Os dias e as estações desdobraram-se no súbito colorido que delirava dum universo monocromático. Não havia paletas para mais ninguém. O preto e branco foi-se ocupando de invadir o peso das estações e dos dias, avariando as mesmas teclas já gastas. Os problemas de rede foram dando lugar a avarias de mau contacto sem orçamento nem arranjo. Houve um dia em que pareceu pertinente indagar sobre outros contactos para completar a mutilada lista de números de telemóvel. Nesse dia acabou tudo. Talvez a vida se resuma só a estes dois tipos de estados. O momento em que a lista de contactos do telemóvel está absolutamente cheia. O momento em que a lista de contactos do telemóvel fica irremediavelmente vazia. Os digítos podem ter combinações infinitas e o dispositivo tem sempre saldo, tem sempre memória para mais alguém. Não há uma primeira categoria, há um sonho em segunda mão. É nesse que eu estou.