quinta-feira, 22 de março de 2012

morabeza

O mais certo é que a paz viva no outro hemisfério. E eu devia dar lá um salto. Voar daqui para fora e aterrar para lá da alfândega onde apreendem as complicações. Essa fronteira onde se esbate o inverno, onde se abatem as olheiras e se combatem as munições. Nesse dia havia de cair uma valente chuvada. E eu havia de sujeitar-me a ela como se a tivesse precipitado, como se não importasse mais nada. Livrar-me da palidez encardida, da razão da partida. Havia de me embriagar com o cheiro do ar até desconhecer a palavra chatice. E engolir um pirolito de especiarias, de meninice. Meter-me num pano colorido, dançar. Desabar os fardos sobre uma mala fechada, impermeabilizada de saudade. Arrumar as armas até um dia mais tarde. Deixar-me voltar.

domingo, 4 de março de 2012

blackbird

Ora aqui está o ano desencorajado e enjeitado, o culpado da angústia sem conserto, da fábrica de energia avariada, das saídas encerradas para balanço. Ora aqui está o ano contra-indicado, o período certo para desacreditar, para entrar em incumprimento com o bom senso, para descarrilar. Ora aqui estamos de mãos dadas com o cansaço que agudiza a neurose dos dias e nos poupa à complexa tarefa de inventar razões para não sermos felizes.