sexta-feira, 26 de junho de 2009

Heal the world, make it a better place

E depois dos escândalos, das excentricidades, da opulência, do refúgio... depois de o ter considerado de forma pejorativa como o homem mais racista do mundo... agora, depois disto tudo, quando a lenda não passa efectivamente disso mesmo, quando toda a gente aproveita para rogar que era bem feito para não se ter maltratado tanto... eu só me consigo lembrar destes versos que aprendi um dia adolescente numa aula de Inglês...
Heal the world
Make it a better place
For and for me
And the entire human race
There are people dying
If you care enough for the living
Make a better place for you and for me
Agora que uma boa parte do mundo está ainda acordado a acompanhar as notícias, enquanto uma parte menos informada ressona a todo o vapor, eu consigo compreender as lágrimas que se vão chorar, eu própria, surpreendentemente, me emociono ao constactar como é possível alguém que goste tão pouco de si próprio poder, ainda assim, dar tanto aos outros.
O ridículo do racismo que sempre lhe atribuí é hoje eu estar acordada até esta hora a pensar que, de facto, não havia qualquer hipocrisia nesse racismo, apenas alguma tristeza, por verificar, como o sei agora, que a única maneira de ser igual nesta vida ainda é ser branco também.
Tudo o resto é uma forma simpática de achar jeitosos os talentos de quem tem um espírito mais torrado.
Deste profundo amor pelos outros, na procura de um reconhecimento... (meu Deus, como toda a gente, como eu própria já não ansiei tantas vezes ser realmente vista) deste profundo talento para se dar, veio a obcessão de adoecer e o intuito superior de tratar...
Quando na imensa mansão alguém estava a morrer... compareceram todos os fãs, todos os sucessos, todo o amanhecer mais claro e mais longe de si.
Cá fora, ficou o que havia a salvar.
Depois de dormir um bocadinho... vou comprar um cd e treinar uns passos daqueles, para recordar.
Se depois ainda tiver tempo, sei que há um mundo para curar...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Pronúncia do Norte


Partida para o Porto na busca da missão interminada do mestre, a saber se é génio ou vagabundo.
Na jornada em que nunca me esqueci de ti, fui no caminho que atravessa o rio, pelo velho casario, até ao mar. Encontro em ânsias marcado, voando como o Jardel entre os centrais, calçada escorregadia até ao Rivoli.
Acordam as marionetas do mestre, quebrando o abismo vagabundo.
Rindo entre sardinhas, o destino é um cavaleiro-andante, um S. João das francesinhas, anfitrião bem-vindo e aconchegante.
A gaivota atravessa a rua com calma, não há fado atrasado que possa fintar o que está marcado.
As marionetas com mestria acordam o génio e diluem o vagabundo.
Mais tarde, enquanto se elevam no ar palavras vis, abraços doces reduzem malícia e criam laços, as pontes que querem unir duas margens sob o olhar atento do leito que tem como certo chegar ao mar.
E o mestre vagabundo já não tem génio para manobrar as marionetas...
Há muitas ondas para as mãos que habilmente podem mexer - acariciar e unir, bater ou apartar, convidar e anuir, sofrer ou enxugar.
Maõs de oiro sabem prender e, na hora certa, soltar.
E assim o segredo embrulhado em seda desvela o mestre e ilumina em tarde leda o amado génio vagabundo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Thousand Words




Uma curta genial que diz o que mil palavras não podem descrever.
Que diz o que eu quero dizer quando menciono o improvável.
O que pode acontecer quando uma pessoa demasiado atenta se distrai.
O que deve acontecer quando uma pessoa demasiado distraída presta atenção.
Obrigada pela dica, miúdo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

It takes two to...

Porque tantas vezes se desperdiçam pessoas para fazer vez de bengala, de escudo, de biombo, de galardão... como é bom saber estar só. Sem ninguém para se mostrar ou esconder, carregando o próprio peso, voando pelas próprias asas.
Porque tantas vezes só assim se descobre tudo o que se desconhece e se desvela o desconhecido com que dantes se mascarava.
Porque é bom, tão bom estar assim, tão pacífico e confortável, tão cómodo e silencioso que melhor mesmo só se...
Aparecer alguém.
Porque para certas coisas são precisos dois.
Porque para muitas coisas são mesmo necessários dois.
Na dança como na vida, a parelha sinuosa em que ninguém pode ser melhor, em que ninguém se sobrepõe.
Na química como na vida, dois átomos que no preciso minucioso comprimento de ligação formam uma susbstância superior à soma das partes.
Nas cerejas como na vida, o par que é comido de uma só vez, mais saboroso quando antes de mão dada podia ser um brinco em qualquer orelha.
Na dupla há dinâmica, acção, construção, recriação, rendição...
Troca de fluídos para os mais físicos, troca de conhecimento para os mais intelectuais, troca de experiências para os mais aventureiros, troca de energia para os mais espirituais.
Pelo plural, pelo binómio, se sorri para o despertador.
E músicas ganham novas histórias, há mais vida para contar, segredos incógnitos de uma conspiração improvável e o nascimento de uma nova existência que partilha o céu estrelado e o amanhecer, que comunga da meta para onde correr.
Areias são pós de perlimpimpim a saltitar na grama de um jardim, o forte em declínio um gelado de fruta à espera de derreter, o paredão não é um abismo mas sim um levitar, um chá parado à espera de se mexer.
Bénard da Costa diria que a arte é uma compensação para o terror que a vida inspira.
Poético, hein?
Eu acrescentaria: o Amor também.

domingo, 14 de junho de 2009

Santos


Marcham os bairros na Avenida, enquanto a noite se faz de outras passadas.
A multidão prolifera pelas ruas como um bando de sardinhas desarrumadas.
Na sombra da alçada colorida, entra o fumo e o eco popularucho da euforia.
Na romaria há manjericos com fartura, quadras mais ou menos bem rimadas e um ou outro ego mais gorducho.
As luzinhas indicam o caminho entre meia dúzia de ruelas mal iluminadas.
Mal por mal prefiro as gargalhadas bem dadas e o trilho abençoado das ginginhas.
Entre prantos e mantos vão caindo pelos cantos... os Santos.

domingo, 7 de junho de 2009

Persiste


Fixe atentamente esta imagem.
Foi aqui que vi pela última vez um testemuho público, concreto, literal, de que O Amor Existe.
Mesmo para os que desconhecem os alfabetos da alma, estava escrito na língua de Camões (que os conhecia a todos).
A cabana à beira-mar plantada na praia de Carcavelos foi agora pintada de branco.
Certamente quem não ouve a mesma canção cobriu de cal a mensagem inscrita.
Aparentemente, ali O Amor Já Não Existe.
A mensagem pode surgir sob as mais variadas formas e linguagens, para as quais existem todo o tipo de analfabetos.
A mensagem pode revestir-se de todas as tintas, em várias camadas, sendo que é difícil vê-la, lê-la. Toda a parede branca pode contê-la...
Olhe atentamente a imagem.
Se um dia, passeando distraído, esta brisa for até si, se o fizer sorrir, se o cobrir com esta luz quente e solarenga, e o fizer sentir-se inscrito destas palavras esplanadas ao mundo, saiba que a poderosa verdade tomou conta de si.
Não me deixe ficar mais assim triste, escreva-me depressa a confirmar, veja através da tinta e tenha como certo, ele persiste.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Elogio do Elogio

Não há qualquer ciência na sensação de prazer que é receber um elogio; o mesmo não se pode dizer da cedência de o tecer. Basta pensar que elogiar é sempre saber dar, sem a mácula horrenda de se frustrar.
Porque tantas vezes se abre a boca para vomitar coisas sem consequência, sem fundo, sem construção, sem paladar, tantas vezes fútil, tantas vezes inútil.
Porque tantas vezes se pensa bem de algo ou de alguém, e falta generosidade, e falta oportunidade para deixar sair.
Porque tantas vezes não se deixa sair nada e porque outras vezes é tanta massada que em vez da boca fechada ainda há força para arrotar pedrada.
É tanta a nobreza de ser seguro, de ser maduro. Em vez de ser o que inveja, que despreza.
Quando alguém pode transformar aquele que seria mais um dia numa imensa alegria, merece saber que já não podia ser mais um entre a maioria.
Quando sinto que já não consinto ser igual, digo para mim - não mais minto! - saio por aí como que ao quintal e procuro alimentar mais um ego faminto.
E agora que toda a rima começa a ficar saturada, concluo - mais vale não ter medo de deixar ficar uma pessoa inchada do que moer a azia de ficar calada.