sábado, 17 de setembro de 2011

One way or another


De uma forma ou de outra, a resistência será sempre a força de quem fraqueja. Venham os enxovalhos, as tareias, as palavras mal amanhadas. Venham os narizes esfolados, o sabor a relva, as minhas mãos arranhadas. Disponham sempre. Um dia atiraremos as cadeiras, perderemos o tino, as estribeiras. Desgostemos de tudo para chegar onde for.
De uma forma ou de outra, estaremos sempre sujeitos uns aos outros. As pessoas erradas chegarão no tempo certo. E nunca haverá um mau momento para a pessoa acertada. Um dia trocaremos os atalhos pela estrada. Imunes a toda a rudeza, a toda a poeira que nos confunda. Eu e tu, sabes bem, nós ainda vamos chocar numa rotunda.
De uma forma ou de outra, a estimada alegria vai sempre espreitar. Sublime e intensa, singular. Por um instante, o trono escorreito de ser só súbdito de si próprio. O descanso de todos os cansaços, as mazelas sanadas. Não importa se as preparamos cozidas ou assadas. Mais desta forma do que doutra, levaremos o fado ao seu lugar.
Hoje e agora, no topo do mundo, onde as tempestades desabam, onde repousa mais luz. Vamos gritar à vontade, brindar à verdade que nos conduz. De uma forma ou de outra.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Dou-te um doce

Hoje lembrei-me daquela bola-de-berlim que comi na praia. Redonda e fresca, encaixada dentro de um vento quente. Entretida entre a força do sol e a brandura do mar. Uma bola-de-berlim trincada a eito, com açúcar, com creme, com areia da praia, com tudo a que tenho direito.
Hoje sei que a vida boa é uma colcha de remendos, uma costura rendilhada de vários pequenos prazeres. Nela moram todas as bolas-de-berlim comidas na praia, todos os passeios de mão dada, as amizades doces, os serões de amêndoas amargas, o som da água salgada.
Hoje lembrei-me que o mundo também pode ser um bolo frito, redondo e fresco. Uma bola recheada de boa gente. Pessoas saborosas como o creme de ovos acabado de fazer. E talvez haja dias para comer areia. Mas eles passam sempre. O que importa é a degustação, convicta, contemplativa, com paladar. A eito. Com tudo a que temos direito.