terça-feira, 21 de junho de 2011

Uma noite vou dançar até de manhã.

Uma noite vou dissolver-me na música como um sal. E ondular na pista como as ondas no mar. Vou riscar no chão o contorno ardiloso da palavra prazer e respirar a madrugada da palavra paixão. Uma noite vou calçar os sapatos de todas as cinderelas e compor um conto só para mim. Vou transpirar a penumbra das estrelas e sorver-lhes a luz. Arrastar os meus cabelos ao redor do teu luar. Uma noite vou pisar o pé dos meus receios e rodopiar o vestido dos meus sonhos. Amanhã é a noite.

domingo, 12 de junho de 2011

Someone like you

Talvez já não te recordes daquela tarde, há uns bons anos atrás, em que ataste uma fita ao meu pulso direito. Era uma daquelas pulseiras dos desejos, lembras-te? Deste três nós firmes, pausadamente, enquanto eu sussurrava com seriedade três profundos desejos. Conservei essa fita com absoluto cuidado, mesmo nas ocasiões em que não me dava jeito nenhum ter uma coisa atada ao pulso. Era cor-de-rosa, lembras-te? Foram anos a fio a ver o fio deteriorar-se lentamente, sujando-se e estreitando-se e alargando, aos poucos, no meu pulso. De certa forma, sempre desconfiei que te transportasse comigo. Que tu permanecesses aqui, atado a um sítio qualquer. Talvez fossem esses três nós bem dados, talvez fosse essa fita deteriorada, talvez fossem esses três desejos profundos que me amarrassem teimosamente a ti.
Um dia destes, num movimento brusco e estúpido, a fita ficou presa ao fecho da minha carteira e rompeu-se. Quando a vi, frágil e quebrada, apartada do meu punho, fiquei sem reacção. Hoje sei que as rupturas começam sempre com um movimento brusco e estúpido. Geram sempre pessoas frágeis e quebradas, apartadas, sem reacção.
Talvez já não te recordes do que significa hoje o meu pulso direito nu. Eu própria não sei. Talvez queira dizer que mesmo as fitas bem atadas acabam por quebrar. Talvez signifique os nossos laços desfeitos, que continuo a vislumbrar neste espaço sem pulseira nenhuma. Onde estão os meus três desejos por concretizar.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Um contra o outro

Um dia ouvi falar sobre um certo provérbio árabe. Diz ele que o beduíno deve ir sempre sobre o camelo. Se o beduíno não conseguir domar o camelo, é bem capaz deste se empoleirar às suas costas. Tenho para mim que estas palavras encerram uma verdade fundamental, a necessidade absoluta de que cada coisa ocupe o seu lugar. Cada coisa e cada pessoa no seu lugar, sendo claro que, a todo o tempo, devamos tomar as rédeas do máximo número de pressões que podem vir a acumular-se no nosso dorso. Pensando bem, talvez haja momentos em que o mundo não seja muito mais do que isso mesmo. Um imenso deserto onde uns quantos beduínos se desdobram para refrear outros tantos camelos.
Eu própria, afinal, prossigo assim. Encavalitada no dromedário das minhas incertezas. Evitando que as forças se invertam, talvez possa avistar um oásis.