domingo, 12 de junho de 2011

Someone like you

Talvez já não te recordes daquela tarde, há uns bons anos atrás, em que ataste uma fita ao meu pulso direito. Era uma daquelas pulseiras dos desejos, lembras-te? Deste três nós firmes, pausadamente, enquanto eu sussurrava com seriedade três profundos desejos. Conservei essa fita com absoluto cuidado, mesmo nas ocasiões em que não me dava jeito nenhum ter uma coisa atada ao pulso. Era cor-de-rosa, lembras-te? Foram anos a fio a ver o fio deteriorar-se lentamente, sujando-se e estreitando-se e alargando, aos poucos, no meu pulso. De certa forma, sempre desconfiei que te transportasse comigo. Que tu permanecesses aqui, atado a um sítio qualquer. Talvez fossem esses três nós bem dados, talvez fosse essa fita deteriorada, talvez fossem esses três desejos profundos que me amarrassem teimosamente a ti.
Um dia destes, num movimento brusco e estúpido, a fita ficou presa ao fecho da minha carteira e rompeu-se. Quando a vi, frágil e quebrada, apartada do meu punho, fiquei sem reacção. Hoje sei que as rupturas começam sempre com um movimento brusco e estúpido. Geram sempre pessoas frágeis e quebradas, apartadas, sem reacção.
Talvez já não te recordes do que significa hoje o meu pulso direito nu. Eu própria não sei. Talvez queira dizer que mesmo as fitas bem atadas acabam por quebrar. Talvez signifique os nossos laços desfeitos, que continuo a vislumbrar neste espaço sem pulseira nenhuma. Onde estão os meus três desejos por concretizar.

13 comentários:

  1. ...gosto deste post!..
    Pena quase nada ser eterno... Os laços deviam sê-lo. Deviam ser feitos com nós fortes e inquebráveis... eternos...

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  2. ...gosto de te ter por aqui!..
    Também tenho pena que quase nada seja eterno... Mas os sentimentalistas são-no, certamente. Fortes e inquebráveis. Apesar de tudo, temos este consolo. Conservamos todos os nós desatados. Um laço que se rompe pode sempre dar um bom post num blog...

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  3. Talvez o trio de nós não tenha sido atado com a força suficiente...
    Talvez sim, mas talvez o tempo se tenha encarregado de o desatar silenciosamente...
    Talvez os laços sejam feitos para serem quebrados... Talvez hajam laços que sobrevivam a tudo e vislumbrem a eternidade... Talvez exista a eternidade...
    Neste mundo da incerteza e do talvez, há algo que é certo e inalterável: o passado. Mas quem não gostaria de poder voltar atrás e dizer a palavra não dita, fazer o gesto retraído, atar o laço com o dobro da força..?
    Mas será possível, no presente, reforçar o laço do passado? ..... Talvez..?

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  4. É tudo verdade. Há laços que não são feitos com força suficiente. Há outros que são desfeitos pelo tempo. Há nós que são atados para serem desatados. E há aqueles que, certamente, não mais se desfazem.
    O passado faz parte das certezas e eu tenho como certo que todos o quereríamos mais bem passado. Ainda assim, com tantas pontas soltas perdidas no presente, não duvido que se possam reatar esses laços.
    O nó do talvez é, de todos, o mais apertado.

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  5. Este post tocou-me particularmente...
    Primeiro, porque ía responder (à tua resposta) na música dos Whitesnake, com "Someone like you";
    Depois, porque eu também tive uma pulseirinha dessas... E partilho dos mesmos sentimentos que tu. [É espantoso o que uma "pulseira mal enjeitada" pode significar :) e tudo o que nos faz pensar]
    Estou numa nova fase da minha vida, mas sempre "neste mundo da incerteza e do talvez"... Novamente as infindáveis perguntas sem resposta, os medos, os anseios, as necessidades, alguns "pontapés", compreensão e incompreensão...
    O desejo de voar ou a vontade de aterrar? Talvez...

    * O meu beijinho

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  6. É sempre enternecedor poder ler essas palavras...
    Certamente que seria sensível à tua sugestão. :)
    Andamos sempre atados às fitas que nos embrulham, abraçados àqueles que nos enlaçam e presos aos desejos que pedimos.
    Tenho para mim que uma nova fase da vida é uma prenda enfeitada com um enorme laço. Traz sempre uma espécie de "pulseira dos desejos" que não devemos deixar quebrar.
    Voar ou aterrar? Como alguém disse, "há mais coisas entre o céu e a terra do sonha a nossa filosofia"...

    Beijo*

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  7. Pontas soltas que talvez possam dar laços menos robustos mas mais duradouros. Esse é um dos meus inúmeros desejos.
    Tudo era tão mais descomplicado no passado, naquela época dos sonhos, dos desejos, da inocência, das inresponsabilidades, de ingerir doses de cerveja e comer amendoins num qualquer café despreocupados com o amanhã. A partir do término dessa época, muitos desejos são perdidos, mas outros estão apenas adormecidos esperando serem despertos.
    Abraço.

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  8. Se é para desejar, desejemos então tudo a que temos direito. Venham laços robustos e duradouros.
    Beber cerveja e comer amendoins como se não houvesse amanhã? Essa pode ser, sem dúvida, uma boa forma de comemorar o passado. Comemorar as pontas soltas que se voltam a cruzar.
    A memória é uma bela adormecida que espera o seu príncipe. O presente pode, a qualquer momento, acordá-la.
    Abraço.

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  9. O baú das recordações deseja seguramente ser aberto e que seja desvendado o seu conteúdo. As memórias adormecidas, os desejos não cumpridos...
    E as pontas soltas aguardam, pacientemente, a oportunidade de serem entrelaçadas de forma a criarem os desejados laços robustos e duradouros.
    Abraço.

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  10. De outra Ana Rute que também ama de mais. bjs
    anarut_e@sapo.pt

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  11. Ana Rute,

    Tenho para mim que nunca se ama demais. Por vezes pensa-se demasiado, tem-se saudades a mais...

    Beijo.
    Ana Rute

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  12. Há algum tempo que acompanho o teu blog, e queria muito fazer um comentário, este pareceu-me o ideal. Pois, alguns anos atrás, também partilhei uma destas pulseiras, criei laços fortes, e pensei que fossem para a vida. Mas também se quebram, e as vezes,quando olho para o meu pulso direito nu, ainda me recordo daqueles laços fortes que partilhamos, e tenho saudades. Pois, uma vez alguém me disse, que a amizade, não se força, não se obriga, subentende-se, e que estaria sempre do meu lado, fosse para beber um copo e sorrir, ou para me dar o ombro e chorar.

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  13. Fico contente que acompanhes o blog e agradeço o teu comentário.
    :)

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