terça-feira, 30 de março de 2010

domingo, 21 de março de 2010

Shutter Island

Talvez possa o caminho ser um imenso cenário de conspiração no qual cada um encontra o secreto desejo de ser herói malogrado.
Talvez possa a viagem ser uma navegação entre traumas e outras tempestades avassaladoras que parecem encerrar uma qualquer ilha no mais íngreme penhasco de si mesmo, longe de tudo.
Talvez possa a loucura ser o último reduto de lucidez para onde resvalar aquando da sucumbência à catacumba da culpa.
Talvez possa a crença numa certa cumplicidade ser o único farol de liberdade para onde correr, alheio às promessas de um futuro indigesto e mutilado.
Talvez esquecer seja a tentação maior de todas, maior do que a traição de si próprio, mais profunda do que a impávida e autónoma absolvição.
Não há crime mais hostil e horrendo, não há ocorrência mais difícil de solucionar, não há causa mais impossível de defender do que a pessoal.
"Vale mais viver como um monstro ou morrer como um homem bom?"
Filme de Martin Scorsese. Recomendo absolutamente.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Publicamente Causada

Será pública a votada causa do abandono da causa pública
Desde a sintomática explosão da república privada
O outro é mais uma temática sem abono

Será então essa causa não mais do que uma pausa
Na absurda ruína lúdica da arruinada vida pública
Onde grassa a rosnada cidadania

Será tão desesperadamente pública a súplica de o publicar
Ao inerte público sem sorvo para multiplicar
Crónico açude de letargia

Será o pudor causado a causa mais pública do prelúdio
Eloquente conselheiro na severa fraga fácil
Da cega devoção à negligência

(Poema Premiado com o 2º. lugar no Concurso de Poesia do Núcleo de Estudantes de Bioquímica da Associação Académica de Coimbra no âmbito da XII Semana Cultural da Universidade de Coimbra, subordinada ao tema Causa Pública)

sexta-feira, 5 de março de 2010

É bom, não foi?

Um dia destes comprou um saco de bolachas de canela embaladas individualmente. Daquelas perfeitas para ir trazendo na carteira. Atentas para distrair um qualquer apetite fortuito. Lá quedaram ansiosas as caladas bolachinhas. Nessa mesma tarde havia de ir esvaziando um a um os pacotinhos. Voraz, ruidosa e desesperadamente. Um apetite gratuito de não deixar esperar pelo gerúndio esquecido da carteira. Não chegaram as tais bolachas ao dia seguinte. Tantas vezes a fome sedenta não faz da vida uma enorme bolacha de canela. Enclausurada num abafado pacotinho individual pronto a rasgar. Sucumbindo aos aterradores apetites de impaciência desesperada. Impetuosa, irreflectida, inadvertidamente. Não fosse o próprio universo um humano esfomeado, a rebelar-se em intempéries, tempestades, erupções. Não fosse o impulso temperamental o prólogo suspiro da implosão.