As toalhas de papel dos restaurantes práticos servem para os artistas escreverem desenhos e para os poetas desenharem estrofes. E para os casais apaixonados imortalizarem juras de amor. As toalhas de papel dos restaurantes práticos servem para sujar, para rasgar ou para guardar. Servem para alimentar de instantes extraordinários a selva medonha da vida vulgar. As toalhas de papel dos restaurantes práticos servem para ensopar as pingas de chuva que escorrem dos casacos e dos cabelos nas noites escuras. Servem para acamar restos de comida e vinho derramado e grãos e migalhas de todas as espécies. Servem para aparar a amargura dos gritos ou a doçura dos sussurros ou o alarde das gargalhadas durante a refeição.
É importante escrever isto, que tenho como uma evidência. Há desenhos que não têm aproveitamento e há estrofes que ninguém lê. E há juras de amor que alguns teimarão em esquecer. Secam as pingas de chuva dos casacos e dos cabelos. As noites escuras vão desaguar na alvorada duma manhã qualquer. O vinho derramado já não volta para o copo e as migalhas nunca vão passar disso mesmo. Resta a amargura, a doçura e o alarde. As toalhas de papel dos restaurantes práticos servem para dar as boas-vindas à vida verdadeira que nos servem à mesa, onde repousamos os talheres da selva medonha da vida vulgar. Servem para embrulhar os resíduos descartáveis dos momentos de prazer durante a refeição.