sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

walking in my shoes

Sempre gostei de sapatos. Porque pisam uma data de coisas que não servem para nada. Porque são pisados, uma vez ou outra, também. Porque precisam de graxa mas sabem viver sem ela. Porque caminham e correm e estão na moda e passam de moda e deixam de servir. Porque sabem sobre os dias em que dou passos pensativos e pontapés e pulos e em que faço perguntas que mais ninguém ouve. Porque me dão poder nas alturas em que um tacão basta para chegar onde é preciso. Porque me dão liberdade quando é necessário sacudir a gravilha e só sair dali. Porque não se cansam de todos os dias em que as pernas querem ser incansáveis. Gosto de sapatos porque eles medeiam esse encontro entre os meus pés e a terra, que é o lugar onde todos os pés deviam parar por um tempo. Gosto de sapatos porque eles sobrevivem a todas as caminhadas e sabem de mim o que eu só desconfio. Gosto de ter caminhado até aqui hoje. Três meses depois, três anos depois. E saber que vou poder escolher entre calçar e descalçar todos os sapatos em que me quiserem meter. E decidir se quero chegar calçada ou descalça, se quero parar ou não parar no lugar.