domingo, 2 de agosto de 2009

Bilhetes

E guardo o bilhete com o teu nome e o teu número de telefone no volume amassado de papéis que se amontoam no compartimento da carteira especialmente destinado às coisas inúteis.
Lá fica entre bilhetes de ida ou de volta, cartões de restaurantes agradáveis e papéis de movimentos desagradáveis como levantamentos e outras contas por rasgar.
Lá fica entre bilhetes tirados em bilheteiras e outros papéis que já não esperam lotaria, que já não se podem remeter a uma tômbola, aguardando qualquer prémio a sortear.
Lá fica entre a tralha que já serviu para alguma coisa, que é de toda a forma testemunha de qualquer coisa, mas que já não tem serventia a assinalar.
A aguardar que um outro bilhete calado, casual e descomprometido possa desarrumar a carteira e fazê-la esvaziar-se de toda a tralha inútil, em que no volume amassado de papéis que se amontoam o teu bilhete não terá qualquer importância.
Esse outro bilhete não poderá ser adquirido em nenhuma bilheteira e a sua sorte não carecerá de qualquer tômbola ou sorteio.
Mas será destinado a outro fim que não o das coisas inúteis, permanecendo enquanto a vida se amontoa de uma nova papelada por rasgar.
E guardo o bilhete com o teu nome e o teu número de telefone à espera de já não precisar.

1 comentário:

  1. Querida Ana:
    ninguém o diria melhor que tu...
    Testemunhas de pequenos momentos de que queremos guardar a verdade... (eles não mudam ao contrário da nossa perspectiva :))

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