terça-feira, 25 de agosto de 2009

São Coisas

Regresso ao cenário das férias da minha infância e agora já não há quem decida por mim aonde ir, embora eu me obrigue, ainda assim, a revisitar os sítios onde passava pela mão e que agora, pelo próprio pé, devo cumprimentar como manda a educação.
Já não sinto o nó na garganta de estar longe e presa, noto agora o aperto de estar de férias e ir para tão perto, sendo livre.
O restaurante dos melhores bifes é agora um bar para putos quezilentos. E até o cone de bolacha daquela maravilhosa gelataria tem um sabor diferente. Um aroma a canela. Os tempos passam, de facto. Tudo muda. Mas por que raio se coloca um aroma a canela num cone de bolacha que sempre abraçou as melhores bolas de gelado da cidade, isso não entendo. Não admito que coloquem canela ou outros sabores nas memórias da minha infância.
As ruas transformam-se em passarelas movimentadas de modelos mais ou menos amadores, de predadores, de presas, de famílias felizes, de pedaços de famílias, enfim, de visitantes bronzeados em geral. Os cheiros dos perfumes que só temos tempo de saber usar quando estamos livres de tempo e que só sabemos cheirar quando esse tempo nos liberta. O aroma do livre arbítrio a vaguear.
Por que não nos deitamos cedo?
Estou certa de que mais vezes me obrigarei a dissertar sobre a resposta a esta pergunta. Ainda que coexistindo com a realidade descartável em que reinará brevemente a trilogia "beber uma, fumar uma, mandar uma", tenho a teimosia de achar por bem descodificar os meandros da equação de que resulta inevitavelmente o facto de ser sempre cedo demais para terminar o dia de hoje e tarde demais para começar fresquinha o dia de amanhã.
O mistério que envolve as pessoas com a madrugada silenciosa onde há sempre algo mais a partilhar, a viver, onde há sempre algo mais para acabar, entre um último chá quente para beber.
Tenho vindo a contar as horas a fim de entender o limite do tempo do dia que possa realmente sorver, entre as ausências de limites que envolvem as mudanças dos tempos, cujas horas nesta altura já não posso conter.
Não sei se isto é uma adolescência tardia ou uma velhice precoce... mas assim este rumo aparentemente despropositado possa enfim ter a cadência perfeita.

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