quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quanto tempo o tempo tem

E preciso eu de viver 23 anos para chegar, com algum grau de certeza, a esta brilhante conclusão: é tudo uma questão de tempo.
Todos temos um número infindável e mesmo inusitado, tremendo, audacioso, de coisas que gostaríamos de fazer nesta vida. Ou mesmo em outra. Não há limite. Contabilizando ainda tudo o queremos fazer e não sabemos, o que vamos tentar mas não vai prestar, e também a quantidade de vezes que vamos decidir mudar e desejar tudo outra vez, é possível, com uma álgebra melindrosa e susceptível, somar uma magnífica panóplia de experiências que, muito possivelmente, será impossível de reunir em tempo útil.
Poderíamos contratar vidas de aluguer para acabar o trabalhinho mas esse tempo já não seria o nosso.
De facto, a vida de cada um é irrepetível, única, insubstituível (se quisermos dizer assim), porque cada qual se arranja como pode para encaixar no relógio uma ínfima parte do que gostaria.
Escolher - tarefa maravilhosa e ingrata, fascinante e frustrante... Implica sempre perder alguma coisa, muitas coisas talvez, sem perder de vista o objectivo principal.
Há, de facto, coisas que fazem mais sentido do que outras mas não nos percamos do assunto, não falamos de sentido, falamos de tempo.
Oferecemos o nosso tempo aos que amamos, ao que nos dá prazer, a meia dúzia ou mesmo uma dúzia de ninguéns que também podemos vir a amar e que, esperamos nós, nos podem dar prazer. Passamos uma eternidade a gerir o amor, o prazer, para mostrar o nosso melhor e ser como somos. Oferecemos também tempo para que os outros nos mostrem o seu melhor, tempo para aprender a vê-los como são, ainda que, muitas vezes, pelo caminho, algumas destas ofertas nos possam, mais tarde, parecer uma perfeita perda de tempo...
Vendemos o nosso tempo no trabalho. Alguns fazem um bom negócio. Para outros pode ser uma grande roubalheira... Mas não falemos disso.
O pior mesmo é quando muitos de nós sentem que ninguém quer o seu tempo, nem dado nem vendido, resultado - a pior angústia de todos os tempos. Mas todo o mau tempo tem um dia seguinte, todas as tempestades têm uma bonança, todos os contra-tempos uma resolução.
Vou dizer outra coisa importante que descobri, há sempre alguém, algures, de tempos a tempos, que aguarda ansiosamente pelo nosso tempo, é a coisa mais preciosa que temos, portanto, sempre que surja a ocasião, deve arranjar-se sempre um bocadinho para essas pessoas.
O tempo de cada um nunca chega para dar a mão a todos os mendigos, matar a fome a todas as bocas, adoptar todos os cãezinhos abandonados... mas enfim.
Ainda assim qual o motivo pelo qual tanta gente quer ganhar o Euromilhões? É para que lhe sobre tempo para fazer o que gosta e também para poder fazer o que gosta sem levar tempo a trabalhar para lá chegar.
Infelizmente para muitos, nem o tempo todo chegaria.
Mas outros têm dificuldade em arranjar um tempinho para serem felizes.
Aqui fica contada a estória, espero que não vá fora de tempo, - é preciso ser feliz atempadamente.

2 comentários:

  1. "Vou dizer outra coisa importante que descobri, há sempre alguém, algures, de tempos a tempos, que aguarda ansiosamente pelo nosso tempo, é a coisa mais preciosa que temos, portanto, sempre que surja a ocasião, deve arranjar-se sempre um bocadinho para essas pessoas."

    :) Também era bom que elas arranjassem um tempinho para nós.
    C (luar)

    ResponderEliminar
  2. O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.

    C (luar)

    ResponderEliminar