domingo, 19 de julho de 2009

What a silly thing to say...

Chamam-lhe então, a título de comentário pseudo-intelectual, a silly season.
Só nestes parâmetros se compreenderia a afirmação, dado que não será necessário haver algo mais a esperar do que chegar a época por que todos esperam.
Só nestas condições se chamaria silly, por nada acontecer, ao período em que nada mais se improvisa, porque tudo acontece.
Senão vejamos.
Começa quando o final da tarde se estende até nunca mais acabar, havendo tempo para sanar todas as dores e tensões, antes da noite chegar. Há tempo para o cafezinho que se andava para marcar já lá vão 15 dias e para os passeios que muitas pernas andavam a pedir já lá vai mais de 1 ano. Há tempo para fazer esvoaçar os vestidos de tecidos coloridos há vários meses enclausurados no armário, a aguardar. Há tempo para que os pés prisioneiros dos sapatos se possam ver agraciados por uma liberdade condicional. Há tempo para aparecer nas esplanadas, nos concertos, nas churrascadas, para fazer acertos de contas com o mar.
Nesses fins de tarde corre por vezes uma brisa que quase se poderia confundir com frio. E a pele já habituada a suar vê-se invadida de uma espécie de espirro, subliminar. Sabe bem nesses momentos poder optar por ir ou não ir buscar um agasalho. Sabe bem saber que esse vento refresca mas não pode gelar. Sabe bem esta imunidade contra as fúrias naturais e hostilidades em geral num período em que nos dão tréguas.
Os flagrantes políticos, as mágoas da humanidade, os dramas noticiosos, as chuvas mananciais... As meias de lã, os lençóis de flanela, as botas de borracha, a lama por lavar, o tempo medido, as escuridão precoce... tudo fica numa espécie de hibernação... que não deixa saudades...
A vida reveste-se de uma plenitude mais saudável, particular, uma amplitude de serenidade incomparavelmente mais agradável, singular.
Tudo mais do que isto é um esquema entediante e duvidoso, inventado durante o resto do ano, para nos alienar.
O que é silly é resmungar o ano inteiro pelas férias, vitimizar-se de outras misérias mais, e depois mergulhar numa multidão incomodada, a correr, e aproveitar para comprar um livro de palavras cruzadas, para se entreter...

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