segunda-feira, 19 de abril de 2010

Je ne regrette rien

Lembras-te daquele pessegueiro entre cujos ramos em flor me tiraste em tempos aquela que seria, para todos os efeitos, a mais bonita fotografia de sempre daqueles tempos?
Morreu.
Muito me estranhou um dia destes quando, enquanto passava casualmente pelo quintal, o vi ausente. Lá me explicaram então que os pessegueiros são árvores extremamente perecíveis, de parca longevidade. Lá vão crescendo lentamente e escapando a uma ou outra maleita, lá vão esboçando ao clima uns quantos sorrisos para escapar às intempéries, vai-se contando com eles para demulcir todos os estios e eis quando, sem aviso, o inevitável acontece.
Morrem.
Muito teria a dizer sobre pessegueiros e outras árvores de fruto mais ou menos frutíferas, mais ou menos sazonais e efémeras. Ainda assim, devo porém referir que deve caber no orgulho de uma árvore caduca ter um dia oferecido razoáveis pêssegos para roer ao calor, sendo também de acrescentar que não são os seus contados dias que a impedem ainda de figurar em algumas das que podem ser, para todos os efeitos, as melhores imagens de sempre duns determinados tempos.
Mortos.
Estarão de cansaço e alegria quando um dia penetrarem novamente uma sombra tranquila duma qualquer árvore de novos tempos entre cujos ramos espreitem desalmadamente pequenas flores. Na brisa sedosa que agita impávida os seus milhentos pólenes correrão alados todos os tipos de arbustos mais ou menos falecidos, a agitar em espirros e comichões novos serões. Nessa tarde saberão, exaustos, que, para bem ou para mal dos tempos, a perenidade não é para todos.

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