domingo, 11 de abril de 2010

Ne me quittes pas

Numa cidade estranha, entre ruas agitadas de turistas, comerciantes, artistas, pedintes e afins, jaz incógnito o objecto perdido. Acaso será possível concretizar a impossibilidade de o achar? Acaso não serão as relações sociais uma imensa e intensa banca de perdidos e achados? A todo o instante não seremos todos um objecto deixado em algum lugar... Em cada quadrante não seremos todos um dono aflito que não se cansa de procurar... Acaso será audível esta súplica, este apelo de que somos simultaneamente remetentes e destinatários, por tudo o que somos susceptíveis de ter abandonado em alguma parte e tudo o que seremos susceptíveis de vir nesse sítio a encontrar. Para o prodígio concorre o instinto fiel da boa vontade, emanado da boa fé e da confiança com que se regam possíveis opositores. Para o prodígio concorre a ultrapassagem da descrença e do pessimismo, a vitória sobre o derrotismo, a força da boa consciência de quem, não crendo, não se opõe a acreditar. Entretanto jaz inquieto o objecto perdido que surdo sussura "não me deixes..."... O tempo é absolutamente precioso quando no frenesim dos passos largos lhe grita apertado o seu dono "não me deixes..."... Quando os dois se encontram há um mundo inteiro de improbabilidades que se iluminam. Quando os dois se encontram há um mundo inteiro de impossibilidades que se sobrevivem.

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