sábado, 25 de setembro de 2010

Just breathe

Às vezes chego à conclusão de que a nossa vida é só uma rua movimentada por onde as pessoas vão passando. Uma rua onde alguns têm casa própria e onde outros arrendam apenas um imóvel para mais tarde acabarem por se mudar. É mentira que a nossa vida seja um T2 apertado que aguarda apenas por um inquilino vitalício. É mentira que a nossa vida seja só um automóvel que nos dá boleia para o sítio mais propício. Não, é mais do que isso. A nossa vida é uma avenida indefinida onde várias figuras circulam. Onde alguns peões passeiam diariamente, como que religiosamente. Onde outros entram apenas de passagem, até por engano. Nesta travessa não há um plano. E não deve haver engarrafamentos nem sentidos proibidos. E deve existir estacionamentos e sinais para os que andam perdidos. Os transeuntes devem ter sempre o traçado aberto para poderem seguir adiante e também para mais tarde poderem voltar a entrar. E nós próprios turistas de outras ruas onde ausentes passamos a habitar. Visitamos outros bairros, gravamos novas pegadas, percorremos urbanizações sem fim, até ao último esforço, encontramos os locais mais ermos e profundos, partimos para jardins lascivos, onde nos deixamos ficar, sem perder de vista aquela nossa morada. Não vale a pena tentar fechar a circulação, de nada serve bloquear a passagem, o ditame da ordem está gasto. Os habitantes passam, deixam o seu rasto, nós nunca largamos a encruzilhada. E lá, no lufa-lufa da vertigem movimentada, nós somos só o rosto que respira dessa estrada.

Sem comentários:

Enviar um comentário