domingo, 5 de dezembro de 2010

En construcció

Vi a Sagrada Família de Barcelona. A obra inacabada.
Tem o impacto monumental de um edifício marcante. Embora tenha gruas por todo o lado. E tenha partes tapadas por andaimes. E haja todos os dias pessoas que de alguma forma lhe toquem e a retoquem. E haja a todo o tempo um ruído e uma encenação em seu redor. E que de todos os que a admirem e visitem, cada um a leve de forma diferente. E que ninguém saiba como e quando poderá terminar. Os anos vão passando e, enquanto algumas partes se renovam, há outras que constantemente envelhecem. Talvez até resida neste facto a sua característica mais peculiar - é um lugar que continuamente se inunda de incerteza. E nesse lugar habita uma identidade em mudança, cujo valor nem se pode questionar. É esquisito amar uma coisa assim.
Se calhar a Sagrada Família de Barcelona é como uma mulher.
Também pode ter o impacto monumental de uma criação marcante. Embora tenha sensibilidades por todo o lado. E tenha partes tapadas por rasgos de humor incompreensíveis. E haja todos os dias pessoas que de alguma forma a toquem, esforçando-se ela própria por se retocar. E haja a todo o tempo um ruído e uma encenação em seu redor. E que de todos os que a admirem e conheçam, cada um a leve como uma mulher diferente. E nem a própria saiba como e quando poderá terminar. Os anos vão passando e, enquanto que há algo nela que se renova, algumas aspirações constantemente envelhecem. Talvez até resida neste facto a sua característica mais particular - uma mulher é um lugar que continuamente se faz e se desfaz, inundado de incerteza. E nesse lugar habita uma realidade autêntica, em mudança, cujo valor nem se deve questionar. Deve ser preciso muito, ou não devia ser preciso mais nada, para amar uma coisa assim.

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