terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Come as you are

Não pode haver hoje outro luxo senão o de poder sentir a textura da pele. A pele, ela própria, sem filtros, sem desculpas, sem conservantes. Vamos acumulando camadas como quem se agasalha para o frio. Vamos coleccionando fachadas como quem habita a sós um vazio. E a pele, ela própria, que nos embrulha com aparente inutilidade, fica prisioneira de todos os sentidos. A pele, ela própria, por onde andamos perdidos, esconde uma verdade adulterada. Irrespirável. Pergunto-me qual será a saída dessa estrada.
Mas eu posso ir contigo para os nós do novelo. E posso embrulhar-me nessas camadas noite adentro. E passear contigo pela rua. O meu humor pode quebrar o teu escudo. Podemos sentar-nos no chão sem medo de sujar a roupa. O meu calor pode derreter a tua capa. Vamos dançar lá ao fundo, fora de horas, depois das camadas. Eu posso fazer escorregar essa máscara. Abraçar-te. E despidos talvez possamos ler a pele.
Não quero filtros, não quero desculpas, não quero conservantes. Um dia eu vou chegar ao lugar onde assentam todas as camadas. Até lá esconderemos, com o pouco que somos, o muito que temos para dar.

2 comentários:

  1. "O meu humor pode quebrar o teu escudo. Podemos sentar-nos no chão sem medo de sujar a roupa. O meu calor pode derreter a tua capa."

    Que palavras tão simples e, ao mesmo tempo, tão maravilhosas. Quisera eu inspirar alguém a dizer qualquer coisa assim. Ou a tentar. Quisera eu sujar a roupa com alguém que não se importasse de a sujar comigo.

    Beijo

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  2. Obrigada.
    A pessoa que inspirou estas palavras certamente nunca as desejou. Nem tão pouco as imagina. E talvez não as venha ler. Deduzo que elas tenham nascido desta forma por isso mesmo. Há pessoas que não precisamos de tocar para que nos venham impregnar a pele. É isso que dizes, simples e maravilhoso.
    Quando deres por ti, já alguém te fez sujar a roupa toda.

    Beijo.

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