sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dirty Dancing

A dança é o universo de simetrias mais assimétrico que existe. É a história de um contrato silencioso, de uma paixão desigual. O exemplo de que duas mãos dadas podem representar, mais do que uma parceria, um jogo de forças. Um jogo sujo e despojado. Uma guerrilha com dois opositores numa mesma facção.
Há um que se permite mandar. Há outro que se deixa obedecer. Os gestos são revestidos de insinuações, de sórdidas subtilezas de engano, do exercício totalitário de uma intenção. O desafio é antecipar com leveza as instruções, reduzir a tensão da surpresa dos sinais, usufruir da beleza das expressões. O ritmo é o compromisso superior, o poema sobre o qual se desenham recursos estilísticos. As normas dissipam-se no rodopiar dos versos, nas esferas insondáveis da empatia, no odor da canção. Apenas o par prevalece.
Os corpos vão desenhar uma fronteira e depois vão escolher a melhor forma de a vilipendiar. Os pés vão usurpando, uns aos outros, o mesmo espaço. Os rostos vão perseguir-se para além da linha de conforto e vão disputar o mesmo ar. Não há meta, não há mapa, não há medição. A distância de segurança é uma utopia. A única regra é não largar a mão. A pista de dança é o palco para uma luta de poder. A mais estética e lírica batalha de atracção. A súmula perfeita entre o génio de mandar e a arte de obedecer.

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