quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mulher Mim

O meu elogio ao desempenho da Daniela nesta peça. Por tudo o que disse e fez no contexto da mulher dos nossos dias. Que está em todos os lugares sem ter, efectivamente, lugar. E por tudo o que não podia dizer nem podia fazer em tempo útil num palco mas que nos implicou a todos nós, espectadores, a dizer e a fazer dentro de nós próprios. O teatro tem destas coisas.
Este espectáculo fez-me reflectir sobre a minha condição de mulher naquele que julgo ser o meu papel mais determinante nesta cadeia de influência e de mudança na qual nos vemos todos inteiramente cúmplices e responsáveis – o papel de filha. Creio que a relação parental, mais do que a relação conjugal, jurídica ou profissional, é aquela que mais introduz conteúdo a esta temática. A relação que faz com que uma Mãe repense as suas funções e motivações na formação de outra mulher. A relação que faz com que um Pai questione as suas limitações de ser homem no acolhimento a uma tão avassaladora nova mulher. Que é a filha. Quando, um dia adolescente, eu perguntei ao meu Pai se, caso fosse da minha idade, namoraria comigo e ele me respondeu timidamente... – Não... És muito intelectual. – eu entendi a importância da superação e actualização dos valores, sobretudo ligados às concepções de perfil atractivo entre géneros, que um filho deve operar sobre o legado transmitido pelos pais. Ao reconhecer que muitas das suas perspectivas se encontram encarceradas nas fronteiras de um tempo, entender que a condição de educador de um Pai não é menos válida se necessitada de ajustes e remodelações sociais. Os filhos nascem com tal missão pelo legado, pela educação que têm a receber dos pais, que tantas vezes não se dão conta de que ao existir, ao crescer plena e conscientemente, os educam. Neste âmbito talvez fosse também importante questionar, com fervor, o papel da mulher na educação de um filho homem e em que medida não encontra, especialmente nesse momento, uma fortíssima oportunidade para desafiar o instituído sem egoísmos nem outras correntes moralistas em que se prender...

Este texto foi publicado no primeiro Caderno Magnólia. Uma colecção de depoimentos recolhidos a partir de espectadores de teatro. Este tem a voz das mulheres que assistiram à peça Mulher Mim. Obrigada.

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