domingo, 1 de maio de 2011

Something simple

Não oferecemos algo simples. Procuramos aquela prenda para aquela pessoa. Pensamos no jeito que a distingue, nos objectos que a definem, nos pequenos prazeres que a fazem feliz. Reflectimos sobre o que somos para ela e sobre o que ela é para nós. Hesitamos entre preencher uma necessidade ou investir apenas num mimo. Hesitamos entre um toque de humor ou um simbolismo profundo. Ou procuramos apenas uma coisa que diga que não nos esquecemos. Que estamos satisfeitos por tê-la aqui. Que cortámos uma fatia do nosso tempo para lhe dedicar. Caminhamos entre as lojas e entre as nossas recordações, mexemos em coisas, rejeitamos coisas. Evitamos a preguiça de pegar numa coisa qualquer. Continuamos a procurar. Falamos com quem nos possa ajudar a encontrar aquela coisa para aquela pessoa. Procuramos a coisa perdida dessa pessoa como se fosse a nossa missão de lha entregar. Pensamos nela, tão dentro da nossa cabeça e do nosso coração. Aguardamos que alguém no mundo tenha feito essa coisa à sua medida para que lha possamos entregar. A coisa aparece. Embrulhada num sítio qualquer onde só nós a poderíamos encontrar. E finalmente imaginamos que esta seria aquela coisa perfeita para aquela pessoa. A coisa vai embrulhada nisso tudo. No estado do tempo nesse dia, nos nossos afectos, nas voltas que demos à procura, na nossa insistência para a encontrar. A coisa leva as nossas impressões digitais, marcadas no momento em que a tirámos da prateleira onde nos esperava. Leva a nossa ansiedade em descobrir, a nossa vontade de estar presente, o nosso desejo de agradar. Guardamos a prenda connosco e também guardamos aquele alívio de missão cumprida. E chegamos a um sítio com aquele embrulho, imagem constrangida de quem se quer dar. Nós e o último medo de não ter escolhido bem, a espera pela expressão daquele rosto. Estendemos a mão. Oferecemos. Ouvimos o rasgar do embrulho e uma palavra de agradecimento embrulhada num sorriso. Um obrigada que é tão inferior à dimensão daquele gesto, tão inferior à dimensão daquela pessoa. Daquele momento em que estivemos lá. Não, não oferecemos algo simples.
Mãe, nenhuma outra pessoa poderia ter ensinado melhor o significado de uma oferta singular. Aqui vou gerindo o meu presente, tentando oferecer sempre a cada um aquilo que melhor lhe encaixa. Nenhuma outra prenda senão esta teria sido suficiente para ti. Eu a subir estas escadas contigo ao pé de mim. Afinal de contas, talvez baste mesmo uma coisa simples. Continuarmos aqui.

3 comentários:

  1. Simplesmente fantástico!Beijo enorme! Cristina

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  2. Obrigada... tu sabes do que falo aqui. Este texto também é para ti, que és Mãe (uma óptima Mãe). Beijo grande!
    Ana Rute

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  3. Obrigada.Há coisas que só entendemos quando somos mães.... e mulheres.Beijo minha querida

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