sábado, 5 de dezembro de 2009

Um bom aluno

É a presença assídua, discreta mas sempre notada, na sala de aula. Tem apontamentos desalinhados num pequeno e velho caderno onde escreve sem esforço os tópicos de maior relevo com letra hostil, só por ele treinada e compreendida. Participa com eloquência e rigor sempre que pontualmente é exigível por si, colaborando também com silêncio incauto nos momentos em que qualquer questão ou comentário é absolutamente desnecessário. Precisa apenas da sua competente caneta vulgar e de breve reflexão para dar a resposta assertiva e inusitada que espera dele o bom Professor. Tem especial carinho pelos docentes rectos, interventivos e desfiadores que todos os outros estudantes especialmente detestam. Como um verdadeiro enfant terrible, não colhe a unanimidade dos colegas nem faz questão. Quando abordado convenientemente é sempre capaz da generosidade e simpatia que só os bons lhe reconhecem. Elabora os mais ilustres rascunhos e exercícios em folhas soltas de papel reutilizado que organiza desorganizadamente por ordem do seu temperamento anárquico e irrepreensível. Não passa horas seguidas a estudar porque conhece os prejuízos de uma privação abrupta da amplitude das ocupações, fazendo apenas de forma leve a parte final do trabalho, que completa o serviço de todos os dias em que a concentração e a auto-disciplina já fizeram quase tudo. E segue então com as sapatilhas gastas para a sala onde a sua existência é também, e sempre, e inevitavelmente, a melhor parte.

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