domingo, 31 de janeiro de 2010

(H)eras

Os tempos vão sucedendo, quase imperceptivelmente, como os dias de Inverno que trepam lentamente, crescem e passados meses retornam.
Ainda em Janeiro será escusado falar de outra coisa senão dos tempos que levemente atraiçoam os números e as ideias, amplificando de forma ancestral pensamentos novos e arrumando com jovialidade sentimentos velhos.
A conta certa dos tempos não são os impenetráveis e estreitos ponteiros do relógio nem a soma de Janeiros que carregamos ao largo sombrio dos olhos cansados... mas antes o produto da idade que lhes equacionamos.
A idade é uma empresa familiar que padecerá então de crónica insolvência... Ao mesmo tempo que acrescenta solução para muitos problemas, cria entretanto muitos problemas sem solução.
A raiva da fatalidade e o sonho da imortalidade são duas formas de problematizar... A noção da incapacidade de conter o tempo e a conquista de capacidades para dar destino a esse tempo são duas formas de solucionar...
Com a quimera na cabeça e a rasura nas mãos, cogita a hera calada dos tempos sãos.

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