sábado, 21 de março de 2009

Às escuras

Recentemente, recordei com um velho amigo um episódio paradigmático da minha adolescência.
Vinha mais cedo para casa (já não me recordo exactamente dos contornos) porque não havia luz na vila inteira, não sei bem, houve uma avaria demorada. No caminho perdi completamente a ideia daquilo e, por isso, quando cheguei em frente à casa da minha Avó, toquei repetidamente a campaínha, sem entender por que razão ninguém aparecia para me deixar entrar.
Engraçado isto, como em tantas outras ocasiões da vida, ninguém tinha culpa. Eu não me lembrei que tocar não resultaria e quem havia de abrir não poderia adivinhar a presença de alguém sem escutar o som. Quando não há luz, não adianta tocar às campaínhas, é um esforço desperdiçado, não existem condições para que se produza o barulho do tilintar estridente, ninguém vai ouvir, as portas não se vão abrir.
Todo o esterco físico é expelido e canalizado para o esgoto. Em caso de acidente é também absolutamente lavável. Já o lodo psicológico tem de ser assimilado pelo organismo cognitivo, lentamente e penosamente levedado, refinado, convertido em combustível para a vida - na melhor das hipóteses.
Quando se está às escuras não há outra saída, não há outra solução senão a imobilidade, a paciência... Aguardar que venha a luz.
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(e bater à porta?????!!!..............................................)

1 comentário:

  1. ainda que a imobilidade e a paciência sejam possíveis soluções... mais cómodas, mais fáceis... BATAMOS ÀS PORTAS! :)
    bjo* pimita

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