quarta-feira, 30 de junho de 2010

Os pontos finais são secos

Os pontos finais são secos. E absolutamente estéreis. Fatais, subversivos. Os pontos finais são as bolas mais quadradas de todas. São as bolas mais inconscientes que alguém um dia já viu, incapazes de se saber a rebolar para outra coisa qualquer.
Os pontos finais são apostas em dar a uma frase um tom austero e a pontuar finalmente um pensamento com um ar assustador e convicto e seco de quem se leva extremamente a sério. De quem quer enfim e afinal acabar por chegar ao final.
Mas a secura de um ponto final tem mais humidade e suor e amargura do que uma vírgula qualquer. Pode ter mais humor e génio do que as pálidas reticências sem tom. E até mesmo exclamar um grito contundente com mais vigor do que o histérico ponto de exclamação. Não há forma de terminar uma mensagem sem chegar a um final contundente que pode ser não mais do que um manisfesto desejo de recomeçar a escrever mais e sempre e continuamente.
Em suma, os pontos finais são o pior tipo de bolas, as bolas armadas em quadrados. A quadratura dos finais tem sempre algo de cíclico e circular. E os começos são sempre quadrados antes de os começarmos a lapidar.

2 comentários:

  1. A minha preferida! Toca-me na alma de uma forma contundente...Espero que esteja tudo muito bem contigo. Aquele abraço!

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  2. Contundente! É isso mesmo que eu quero ser! E também a preferida de alguém... assim o espero! :) Obrigada pela visita, Elísio. É um gosto receber-te aqui. Está tudo muito bem comigo, espero que contigo também. Aquele abraço!
    Ana Rute

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