terça-feira, 10 de dezembro de 2013

a case of you

Não sei a que sabe a tua pele. Se sabe aos teus dias densos e à tua saudade secreta de que fosse diferente. Se sabe ao teu corpo lasso, onde carregas o peso de uma paz inacabada. Se sabe ao despropósito da tua rudez, que arremessas ao mundo como defesa a nenhum ataque. Ou se sabe à tua espada de criança perdida, que esgrima um recreio imaginário para não ter de recordar o regresso a casa. Não sei se sabe a infusão de especiarias e a madrugadas, a plantas secas e a palavras doces, renascidas num chá. Não sei sequer se sabe a ervas, se as ervas forem colhidas e regadas, aparadas, vividas para lá daqui. Não sei se sabe só ao sumo de um profundo cansaço, do teu cansaço suado e triste. Não sei nem se te sei para além dessa epiderme instável, onde transpira toda a poeira de ti. Não sei se te perfuro para além do caos dessa paisagem incauta, onde borbulha a tua alergia e o teu pesadelo. Não sei se te desnudo alguma noite para lá da casca. Sei só que te abraço os braços morenos e que te atas a mim num único laço. Sei só que te amparo na senda de uma fortuna só minha, às cegas, sem tacto, sem palato, palmo a palmo. Sei só que te desejo num único sorvo mas que debalde te afago, uma a uma, as camadas. Sei que te pertenço e que te cuido nesse sanatório de almas onde dissolvemos os males que não podem sarar. E sei que esse lugar escuro onde ficamos, esse mar imundo onde mergulhamos, sabe a pó e a perdas e a passado. Sei que a amargura a que me sabes é só prelúdio da ternura que talvez no futuro saibas ser. E sei que o sonho dessa conversão tempera o travo salgado a que sabe, infinitamente, absolutamente, a tua pele.

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