Não sei a que sabe a tua pele. Se sabe aos teus
dias densos e à tua saudade secreta de que fosse diferente. Se sabe ao teu
corpo lasso, onde carregas o peso de uma paz inacabada. Se sabe ao despropósito
da tua rudez, que arremessas ao mundo como defesa a nenhum ataque. Ou se sabe à
tua espada de criança perdida, que esgrima um recreio imaginário para não ter
de recordar o regresso a casa. Não sei se sabe a infusão de especiarias e a
madrugadas, a plantas secas e a palavras doces, renascidas num chá. Não sei
sequer se sabe a ervas, se as ervas forem colhidas e regadas, aparadas, vividas
para lá daqui. Não sei se sabe só ao sumo de um profundo cansaço, do teu
cansaço suado e triste. Não sei nem se te sei para além dessa epiderme
instável, onde transpira toda a poeira de ti. Não sei se te perfuro para além
do caos dessa paisagem incauta, onde borbulha a tua alergia e o teu pesadelo.
Não sei se te desnudo alguma noite para lá da casca. Sei só que te abraço os
braços morenos e que te atas a mim num único laço. Sei só que te amparo na
senda de uma fortuna só minha, às cegas, sem tacto, sem palato, palmo a palmo.
Sei só que te desejo num único sorvo mas que debalde te afago, uma a uma, as
camadas. Sei que te pertenço e que te cuido nesse sanatório de almas onde dissolvemos
os males que não podem sarar. E sei que esse lugar escuro onde ficamos, esse
mar imundo onde mergulhamos, sabe a pó e a perdas e a passado. Sei que a
amargura a que me sabes é só prelúdio da ternura que talvez no futuro saibas
ser. E sei que o sonho dessa conversão tempera o travo salgado a que sabe,
infinitamente, absolutamente, a tua pele.
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